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sábado, 4 de junho de 2016

Talentos da escrita

Desta vez, em Outros Geeks, dou a conhecer três talentos da escrita, colegas meus da turma 19 do workshop de escrita criativa de Pedro Chagas Freitas. Escrever é pensar e estes amigos têm a cabeça a arder em ideias e criatividade.
Ora conheçam o seu trabalho:





Passo incerto


Vagueando nas brumas dos meus pensamentos
Ergo o olhar
ao fundo, lá bem fundo no meu horizonte perdido no tempo


Vislumbre de luz e alegria
que me toca nos olhos como um sopro de afago,
Que vem e consola
este peito agastado,
Este sopro que me mantém neste passo incerto,

Mas não tiro a mira e aspiro,
E respiro
aquele horizonte
tão longe e distante, afastado.
Quase inacessível,
à distância do sim e do não.

Num tempo distante,
Pensamento inconstante
que me assombra então
naquele instante.  
                                               
E continuo…

No meu passo incerto,
Tão certo como o não que se transforma em sim
Mesmo sendo à beira do fim,

                                                                        E continuo…

No meu passo incerto,
E quando chego lá perto
Resisto e insisto
No rumo persisto
E ando lá perto e não acerto,
Já não sei bem ao certo
Se é sim ou se é não

E continuo…

No meu passo incerto,
Vi o fim tão perto
E afinal não chegou
Partiu, recuou

O meu passo incerto,
Arraso, levanto
Num duelo constante
Entre o sim e o não,
Sinto esta Força distante
Que me segura na mão
e faz
do meu passo incerto
Este destino suspenso
Entre o sim e o não

                                                                       E continuo…

Deambulando nesta peleja
Que me assalta a alma,
E mesmo com o coração refém
Do egoísmo ingrato,
Sempre insensato,
Mesmo nesse passo incerto,
Mantenho este sonho que me arrebata o peito

E me leva ao horizonte perfeito. 


Sandra Sá Vaz

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Já tanto fez, que agora já tanto faz
Tu foste o amor da minha vida. O amor mais lindo e imperfeito que eu pude ter. Amei-te tanto. Muito mais que a mim própria, porque eu só sei amar-te assim. Mas… eu não fui o teu grande amor. Infelizmente. Deste-me tudo o que os sentimentos não puderam dar. Mas não pudeste dar-me o amor que eu desejei receber. Pior ainda, não foste sequer o homem com que eu acreditava estar e sequer foste, o homem que eu desejava ter. Mas o amor deixa-nos numa espécie de neblina mental, onde só vimos o que desejamos ver. No decorrer do tempo a neblina foi-se dissipando. As lágrimas, limparam-na aos poucos e muito lentamente o amor que era imenso, foi diminuindo na proporção das desilusões e desta tua capacidade de desamor. Fui fraca ao pensar que um dia tudo iria mudar. Foi forte quando olhei, para lá desta névoa mental. Hoje deitas-te a meu lado, como sempre fazemos, mas já não és o homem que eu amava, hoje és – tão somente - o homem que sempre foste. O meu companheiro distante, que eu desejava, ansiava e acreditava conseguir resgatar. Hoje o meu coração limpo das ilusões devolve-te a liberdade, que sempre tiveste mas que eu toldava para mim própria, entre sorrisos tristes e crenças infantis, que insistia em mesclar só para poder amar-te. Hoje devolvo-te o teu desamor, ou amor (já nem sei – talvez só consigas amar assim - e talvez na realidade eu também seja o teu grande amor).
Apenas te devolvo a parte que representava para mim, sucumbindo à tristeza e desilusão…


Maria Fátima

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Máscaras

Percorria por aí qualquer rua deserta, despida de preconceitos e hipocrisias sociais, quando vejo uma sombra que caminhava ao meu lado. Não falava comigo, apenas seguia os meus passos atentamente, como que se estivesse a controlar todos os meus movimentos. Pareceu-me estranho mas não lhe prestei atenção. Continuei o meu caminho tentando lembrar-me da ultima vez que passava por ali. O meu cérebro, teimoso e adormecido de pensamentos, não me dava qualquer resposta. Podia escutar o silêncio. Continuei o meu caminho, e comigo veio a sombra. Quando cheguei ao rio, encontrei sentado num pequeno banco de pedra, um velhote barrigudo que me dirigiu o seu olhar.
 - Que fazes aqui? - disparou o velho.
 - Quero ver o que existe do outro lado - respondi.
 - E porquê tanta curiosidade?
 - Porque deste lado as máscaras escondem os rostos de humildade. Ouvi dizer que do outro lado não precisamos esconder quem somos.
 - É verdade. E estarás tu preparado para enfrentares aquilo que não se pode esconder?
 - Não sei, é isso que pretendo descobrir.
 - Sabes que ao atravessares esta ponte, não podes regressar.
 - Não importa, pior do que viver por aqui não será. Ao menos, aqueles que se cruzarem no meu caminho serão aquilo que os seus olhos dirão, os sorrisos serão verdadeiros e as suas acções serão comandadas pelo coração. Saberemos sempre o que esperar de alguém.
O velho não pronunciou mais nenhuma palavra como que autorizando a minha passagem. A sombra continuava estranhamente ao meu lado, como se fossemos dois viajantes inseparáveis. Atravessei a ponte olhando o rio que lá em baixo descansava ao sol, embalado pela brisa que soprava vinda das montanhas. Quando cheguei à outra margem tudo parecia igual, apenas a sombra que me seguia tinha desaparecido. Ali estava eu, apenas Eu, do outro lado, sem lugar para sombras, num mundo que esperava ser melhor, longe das falsidades humanas.


Luís Sousa

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