Ora conheçam o seu trabalho:
Passo incerto
Vagueando nas brumas dos meus pensamentos
Ergo o olhar
ao fundo, lá
bem fundo no meu horizonte perdido no tempo
Vislumbre de luz e alegria
que me toca nos olhos como um sopro de afago,
Que vem e consola
este peito agastado,
Este sopro que me mantém neste passo incerto,
Mas não tiro a mira e aspiro,
E respiro
aquele horizonte
tão longe e distante, afastado.
Quase inacessível,
à distância do sim e do não.
Num tempo distante,
Pensamento inconstante
que me assombra então
naquele instante.
E continuo…
No meu passo incerto,
Tão certo como o não que se transforma em sim
Mesmo sendo à beira do fim,
E continuo…
No meu passo incerto,
E quando chego lá perto
Resisto e insisto
No rumo persisto
E ando lá perto e não acerto,
Já não sei bem ao certo
Se é sim ou se é não
E continuo…
No meu passo incerto,
Vi o fim tão perto
E afinal não chegou
Partiu, recuou
O meu passo incerto,
Arraso, levanto
Num duelo constante
Entre o sim e o não,
Sinto esta Força distante
Que me segura na mão
e faz
do meu passo incerto
Este destino suspenso
Entre o sim e o não
Deambulando nesta peleja
Que me assalta a alma,
E mesmo com o coração refém
Do egoísmo ingrato,
Sempre insensato,
Mesmo nesse passo incerto,
Mantenho este sonho que me arrebata o peito
E me leva ao horizonte perfeito.
Sandra Sá Vaz
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Já tanto fez, que agora já tanto faz
Tu foste o amor da minha vida. O amor mais lindo e
imperfeito que eu pude ter. Amei-te tanto. Muito mais que a mim própria, porque
eu só sei amar-te assim. Mas… eu não fui o teu grande amor. Infelizmente.
Deste-me tudo o que os sentimentos não puderam dar. Mas não pudeste dar-me o
amor que eu desejei receber. Pior ainda, não foste sequer o homem com que eu
acreditava estar e sequer foste, o homem que eu desejava ter. Mas o amor
deixa-nos numa espécie de neblina mental, onde só vimos o que desejamos ver. No
decorrer do tempo a neblina foi-se dissipando. As lágrimas, limparam-na aos
poucos e muito lentamente o amor que era imenso, foi diminuindo na proporção
das desilusões e desta tua capacidade de desamor. Fui fraca ao pensar que um
dia tudo iria mudar. Foi forte quando olhei, para lá desta névoa mental. Hoje
deitas-te a meu lado, como sempre fazemos, mas já não és o homem que eu amava,
hoje és – tão somente - o homem que sempre foste. O meu companheiro distante,
que eu desejava, ansiava e acreditava conseguir resgatar. Hoje o meu coração
limpo das ilusões devolve-te a liberdade, que sempre tiveste mas que eu toldava
para mim própria, entre sorrisos tristes e crenças infantis, que insistia em
mesclar só para poder amar-te. Hoje devolvo-te o teu desamor, ou amor (já nem
sei – talvez só consigas amar assim - e talvez na realidade eu também seja o
teu grande amor).
Apenas te devolvo a parte que representava para mim,
sucumbindo à tristeza e desilusão…
Maria Fátima
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Máscaras
Percorria por aí qualquer rua
deserta, despida de preconceitos e hipocrisias sociais, quando vejo uma sombra
que caminhava ao meu lado. Não falava comigo, apenas seguia os meus passos
atentamente, como que se estivesse a controlar todos os meus movimentos.
Pareceu-me estranho mas não lhe prestei atenção. Continuei o meu caminho
tentando lembrar-me da ultima vez que passava por ali. O meu cérebro, teimoso e
adormecido de pensamentos, não me dava qualquer resposta. Podia escutar o
silêncio. Continuei o meu caminho, e comigo veio a sombra. Quando cheguei ao
rio, encontrei sentado num pequeno banco de pedra, um velhote barrigudo que me
dirigiu o seu olhar.
- Que fazes aqui? - disparou o velho.
- Quero ver o que existe do outro lado -
respondi.
- E porquê tanta curiosidade?
- Porque deste lado as máscaras escondem os
rostos de humildade. Ouvi dizer que do outro lado não precisamos esconder quem
somos.
- É verdade. E estarás tu preparado para
enfrentares aquilo que não se pode esconder?
- Não sei, é isso que pretendo descobrir.
- Sabes que ao atravessares esta ponte, não
podes regressar.
- Não importa, pior do que viver por aqui não
será. Ao menos, aqueles que se cruzarem no meu caminho serão aquilo que os seus
olhos dirão, os sorrisos serão verdadeiros e as suas acções serão comandadas
pelo coração. Saberemos sempre o que esperar de alguém.
O velho não pronunciou mais
nenhuma palavra como que autorizando a minha passagem. A sombra continuava
estranhamente ao meu lado, como se fossemos dois viajantes inseparáveis.
Atravessei a ponte olhando o rio que lá em baixo descansava ao sol, embalado
pela brisa que soprava vinda das montanhas. Quando cheguei à outra margem tudo
parecia igual, apenas a sombra que me seguia tinha desaparecido. Ali estava eu,
apenas Eu, do outro lado, sem lugar para sombras, num mundo que esperava ser
melhor, longe das falsidades humanas.
Parabéns a todos!
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